quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Desperate Housewife II


Eu adoro esmalte vermelho. E também sou um tanto destrambelhada, como vocês devem ter percebido. E, ainda, sou bem metódica: sempre o mesmo tom de vermelho - uma camada de Beijo e uma de Desejo, em cima.
Sabendo que eu sempre consigo estragar alguma unha antes do final de semana, quando a manicura vem, tive a brilhante idéia de comprar um Desejo pra deixar aqui em casa e poder consertar sozinha quando eu estragar. Inteligente? Nem de longe.
Hoje estraguei a unha do dedão tentando abrir o vidro de ketchup e fui consertar, toda contente com meu senso prático.
O problema é que semana passada o Desejo da manicura tinha acabado, por isso ela passou um 'genérico', chamado Havana.
Claro que ficou superdiferente o tom. Por isso, ao invés de retocar só o cantinho da unha do dedão, tive que passar em todas.
Estava eu bem tranqüila [tentando] passar com a mão esquerda, quando cai uma gota na mesa de marfim da minha tia. Mais do que depressa, passei o dedo, aumentando a mancha e sujando o dedo. Instintivamente passei o dedo sujo na palma da outra mão. Mais sujeira. Desesperada, me esqueço do pincel. Uma gota no chão. Levanto desesperada pra ir buscar um pano. Piso na gota, no chão.
Em meio a uma crise histérica com direito a muito choro, consigo limpar o chão e a mesa.
Olho pras mãos. Me sinto de novo na segunda série, acabando uma pintura com guache. Corro pro banheiro procurar a acetona - ainda tenho 25 minutos antes do curso de francês.
Xampu, condicionador, pasta de dente (cadê a acetona?), sabonete, creme pros pés, creme pras mãos (cadê a droga da acetona?), creme pro cabelo, mais pasta de dentes e o bendito vidro de acetona...
... vazio.
Desespero. Pânico. As duas mãos sujas de esmalte vermelho Desejo. Muito sujas. Vinte minutos pro curso de Francês. Nem uma gota de acetona.

O que me resta? Fazer cara de nada, encarar o vexame e ir no mercado com a mão inteira vermelha, passar pelo menino do caixa, que reprime uma boa gargalhada... e voltar pra casa, olhando pras mãos inteiras manchadas de esmalte vermelho Desejo.

Desejo? Desejo de enfiar a cara num buraco, isso sim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

"Um piloto precisa ter fé. Em seu talento, em seu poder de julgamento, no poder de julgamento daqueles que o cercam, nas leis da física. Um piloto precisa ter fé na equipe, no carro, nos pneus, nos freios, em si mesmo.
Ele erra a entrada na curva. É forçado a sair do seu trajeto. Ele está em alta velocidade. Os pneus perderam a aderência. A pista ficou escorregadia. E de repente, ele se vê na saída da curva sem ter mais pista e em grande velocidade.
Enquanto a caixa de brita se aproxima, o piloto precisa tomar decisões que terão impacto sobre a corrida, sobre seu futuro. Virar as rodas dianteiras violentamente, indo contra a sua natureza, só vai fazer o carro rodar. Frear é igualmente ruim, porque deixará a traseira do carro solta. O que fazer?
O piloto precisa aceitar seu destino. Ele precisa aceitar o fato de que erros foram cometidos. Cálculos errados. Decisões ruins. Uma confluência de circunstâncias coloraram-no nessa situação. O piloto precisa aceitar tudo isso e estar disposto a pagar o preço. Precisa sair da pista.
Tirar duas rodas. Até mesmo quatro. É uma sensação terrível, como piloto e como competidor. O cascalho que bate no chassi. A sensação de estar nadando na lama. Enquanto as rodas estão fora da pista, outros pilotos estão passando por ele. Pegando seu lugar, continuando em alta velocidade. Só ele está reduzindo.
Nesse momento, o piloto entra em crise. Ele precisa acelerar novamente. Ele precisa voltar pra pista.
Oh, estupidez!
Pense nos pilotos que saíram das corridas por terem quebrado a direção, por terem exagerado na correção a ponto de rodarem na frente dos adversários. Uma posição terrível para qualquer um ficar.
Um vencedor, um campeão, aceita seu destino. Continua com as rodas na sujeira. Faz o melhor que pode para manter o traçado e voltar gradualmente para a pista, em segurança. Sim, ele perde algumas posições na corrida. Sim, ele fica em desvantagem. Mas continua correndo. Continua vivo.
A corrida é longa. É melhor pilotar dentro dos limites e terminar a corrida atrás dos outros, do que forçar e quebrar."
(A Arte de Correr na Chuva, Garth Stein).


:) Incrível como realmente funciona assim, não é?