Segunda, 13 de abril de 2009. 1h48.
Sentei-me no sofazinho da recepção. Minhas mãos tremiam, meu coração estava acelerado. Pela porta, podia vê-lo, junto ao meio-fio. A luz do sol incidia fortemente sobre ele. Eu não ousava encará-lo por muito tempo - em instantes nossa relação estaria evoluindo para uma nova etapa. Precisávamos ser responsáveis.
- Angélica, vamos? - chamou uma voz atrás de mim. Senti meu estômago embrulhar. Minha voz parecia ter sumido.
- Angélica, vamos? - chamou uma voz atrás de mim. Senti meu estômago embrulhar. Minha voz parecia ter sumido.
- S-sim - disse eu, com certo esforço.
Seguimos na direção dele. O grande momento havia chegado. Só me restava respirar e encarar a situação.
***
- Tá vendo esse pedal aqui? É a embreagem. Este outro é o freio e este o acelerador. - dizia a instrutora. - Você deve pisar na embreagem para trocar de marchas.
Mais algumas instruções e dicas rápidas.
- Agora é sua vez - concluiu ela. Pude sentir meu coração batendo na garganta.
Sentei no banco do motorista. Arrumei o retrovisor. Puxei o banco pra frente, no máximo. Tinha que me contorcer um pouco pra alcançar a embreagem. Droga. Coloquei o cinto de segurança. Dei a partida. O ronco do motor me fez estremecer. "Isso não vai prestar", pensei.
Dito e feito. O carro afogou. "Argh".
Olhei pra instrutora. Tranquila, ela olhava para um cantinho da unha, onde seu esmalte vermelho havia saído. Então é assim? Eu estou quase enfartando, com o carro afogado e ela se preocupa com o esmalte? Que raiva!
Tentei de novo. Não afogou. Ótimo. Olho pra ela, incerta.
- Acelera devagar.
Certo. Qual é o acelerador mesmo?
Com o pé esquerdo, procuro o pedal do acelerador. Meus pés se enroscam. Entro em pânico, estávamos no meio da rua já. "Não posso afogar, não posso afogar", eu repetia freneticamente.
Afoguei. Olho pra instrutora, desesperada. Calmamente, como se sua mão pesasse 11 toneladas, ela liga o pisca alerta.
- De novo. Dá a partida.
"Argh". De novo. Afoguei. De novo. Afoguei.
Senti meus olhos cheios de lágrimas. De novo. Pegou. Acelerei devagar. Estávamos andando (a 15km/h, mas estávamos em movimento). Fiquei emocionada. Logo a frente, havia uma placa de PARE.
- Você deve frear devagar - disse a instrutora.
Certo, freio. Freio, freio, onde é o freio? Com um impulso, pisei com força no pedal do meio. Paramos bruscamente. O carro afogou. Olhei no retrovisor. Um garotinho de bicicleta passava alegremente por mim. "Não precisa ter medo, é como andar de bicicleta", dizia minha tia. Tá, como se eu soubesse andar de bicicleta.
De novo. Afoguei. De novo. Afoguei.
E assim, fomos. Afogando, dando partida, afogando de novo, fiz duas horas de aula andando, no máximo, dois quarteirões.
Chegamos na Avenida Mandacaru. Duas faixas para cada pista, carros, bicicletas, caminhões. "Ai, caramba, caminhões". Meu estômago se contorcia, fiquei enjoada.
O sinal ficou verde. Acelerei devagar, passamos a primeira pista.
- Este quadrado pintado de amarelo é a zona de conflito. Você não pode parar aqui.
Não sei qual a vantagem de me dizer isso, naquele momento. Desesperada, afoguei. Dei a partida. Afoguei. Alguns carros buzinaram. Sentia meu rosto enrubescendo, algumas lágrimas que não pude segurar. "Que ódio". Dei a partida. Saímos lentamente. Com esforço e grande ajuda da instrutora, chegamos à minha casa.
"Isso não vai prestar", pensei.
- Nos vemos na quarta, Angélica. - disse ela, alegremente, acenando.
"Isso definitivamente não vai prestar", pensei.